
A análise de filmes é algo muito legal (acho que todos aqui concordamos nisso), por isso resolvi dar um passo adiante nas minhas análises: no meu primeiro post analisei o mesmo filme que o Lacerdinha para podermos comparar duas análises diferentes; neste queria comparar dois grandes filmes que tem como personagens ao mesmo tempo principais e secundários um mesmo grande ator: Alfredo Pacino.
Sim, minha paixão por ele pode ter influenciado na escolha, mas acho que ela foi mais pautada pelo fato de que eu assisti a esses dois filmes várias vezes – o que facilitará (ou complicará) a minha análise. Estamos falando de Perfume de Mulher (Scent of a Woman) e O Advogado do Diabo (The Devil’s Advocate).
A minha comparação parte do fato de que as personagens principais vividas por Chris O’Donnell e Keanu Reeves possuem diversas semelhanças: ambas criadas sem a presença de um pai consangüíneo (Chris criado por mãe e um padrasto e Keanu por mãe solteira), ambas as personagens tem origem simples (Chris em Oregon e Keanu em um cidade no interior). Além disso, o conflito dos filmes se inicia com a não aceitação do que são.

Em Perfume de Mulher temos um jovem – Chris – que é um excelente aluno que acompanha um ex-oficial do exército – Al – em uma viagem. Logo que se conhecem, porém, percebe-se uma relação tensa entre os dois. Frank (o coronel) é um homem difícil de lidar, – tão difícil que nem a própria família consegue – mas a insistência da mesma que vai passar o feriado de Ação de Graças com a família do marido convence Chris que também precisaria do trabalho para poder visitar a sua no natal.
O primeiro contato entre eles mostra como será a relação dos dois, que possuem opiniões muito diferentes e ao mesmo tempo muito semelhantes sobre o mundo.
Em Perfume de Mulher, Chris é tentado de forma semelhante: ao ver alunos montando uma peça para pregar no diretor, ele se envolve em uma luta sobre o certo e o errado: ele é chantageado com a indicação a um programa de bolsas nas melhores faculdades e tem o feriado para pensar no assunto: se entrega os colegas ou não. Enquanto isso,é chantageado também por amigos e sai com o coronel, mas procura não tocar no assunto (que acaba surgindo inevitavelmente). Essa briga entre o certo e o errado permanece durante o filme todo – cito aqui o que considero a melhor cena do filme – quando o Al Pacino vai se matar e Chris impede. Então Al pergunta porque ele se importa e Chris responde que é porque ele tem consciência, segue-se o seguinte diálogo:
Coronel Frank: Haven't you heard? Conscience is daihed.
John Milton: Let me give you a little inside information about God. God likes to watch. He's a prankster. Think about it. He gives man instincts. He gives you this extraordinary gift, and then what does He do, I swear for His own amusement, his own private, cosmic gag reel. He sets the rules in opposition. It's the goof of all time. Look but don't touch. Touch, but don't taste. Taste, don't swallow. Ahaha. And while you're jumpin' from one foot to the next, what is he doing? He's laughin' His sick, fuckin' ass off! He's a tight-ass! He's a SADIST! He's an absentee landlord! Worship that? NEVER!
John Milton: Overrated. Biochemically no different than eating large quantities of chocolate.
(comentário: me arrepio toda a vez que vejo essa cena)
O pessimismo das personagens de Al Pacino nesses dois filmes é uma constante, porém, segue com ele uma espécie de carpe diem, onde fazer tudo – principalmente o proibido – é a melhor forma de viver. Enquanto as personagens de Chris e de Keanu são personagens que não se aceitam como são e procuram ser maiores agindo de maneira que não agiriam normalmente. Acho que a questão toda é o conceito de grandeza. Nos dois casos a grandeza é mostrada como o poder aquisitivo e, no final dos dois filmes há uma mudança dessa idéia.
Mas afinal, o que é a grandeza?
Em Perfume de Mulher é manter a integridade? Mesmo que perca coisas importantes para a sua vida?
Embora os dois filmes tenham abordagens bem diferentes, no fundo eles tratam do mesmo assunto: a moral e a sua relação com o indivíduo: a consciência. Moral aqui, não como sinônimo de ética, mas como atitudes que seguem determinadas regras – no caso, regras que o indivíduo recebeu e internalizou como certas, podendo, é claro, modifica-las ao longo de sua vida. As escolhas podem ser contra a moral recebida, porém, em algum momento a escolha que não foi coerente com a sua moral começa a te atormentar – como é o caso do Advogado do Diabo.
Acho que o aprendizado mais importante desses dois filmes é que não importa o quanto as outras pessoas interfiram nos acontecimentos da sua vida, a escolha sobre o que fazer ou deixar de fazer é sempre sua. E é ai que entra a consciência, que morta ou viva não pára de atormentar ou consolar os homens.
É isso.
Uau!!
ResponderExcluirQuando eu vi lá nos rascunhos "Semelhanças entre Perfume de mulher e advogado do diabo", só cheguei em: "Er... Al Pacino?".
Anteontem estava com insônia e fiquei pensando nisso. Também há os comportamentos do Coronel e do Keanu: ambos têm que escolher entre o certo e o hedonismo - e a subseqüente autodestruição.
P.S.- Ah, nenhuma desculpa qualquer para colocar a cena do tango aqui? xDDD
pra mim todos os filmes do mundo tem diálogo entre eles e nem que seja no fundoo mesmo acabam tratando da mesma coisa. o próprio Leandro chegou à essa conclusão na discussão de advogado haha. Mas a graça é justamente ver todas elas e descobrir esses dialogos por conta propria. Mas gostei muito Paula!
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