Com a palavra, os cineatas:

“O que interessa não é o que dizemos, mas como dizemos.”(F.Fellini)
"A realidade é chata, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife"(W.Allen)
"Há algo mais importante que a lógica: é a imaginação."(A.Hitchcock)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Os Incompreendidos


Normalmente, quando algum acontecimento importante completa uma idade múltipla de cinco a imprensa, através dos seus muitos veículos, corre para produzir especiais, matérias longas e assim por diante. Normal. No entanto, a Nouvelle Vague completa em 2009 cinqüenta anos (tem dois cincos aí) e eu realmente esperei um barulho muito maior.

A data escolhida é 1959 por causa do lançamento e consagração no Festival de Cannes do filme Os Incompreendidos, no original, Les 400 Coups, de François Truffaut.

Nouvelle Vague, Nova Onda, é o nome dado à tendência do cinema francês que surgia com diretores como Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e Alan Resnais. Eu li muita informação contraditória sobre ser ou não um movimento oficial, com manifesto e tudo mais, porém todos propunham, pelo menos no início e entre outras coisas, o "cinema de autor", ou seja, o diretor era o responsável pelo resultado final. Ou algo assim.

Repercussão realmente teve: matéria de várias páginas no Estadão, programa na Globonews, mostra na Cinemateca, e ficam todos discutindo o que sobrou da Nouvelle Vague no cinema atual; discussão idiota. Eu me chamo Elisabeth, de 2006 e Stella, de 2008 (em exibição) são verdadeiras homenagens a Os Incompreendidos, com referências óbvias demais para serem coincidências e acabam de cara com esse debate.

Antoine Doinel é o herói do filme. Ignorado por todos os adultos a sua volta - pais e professores - o garoto, praticamente adolescente, comete pequenos delitos em busca de atenção e em alguns momentos até redenção. Doinel pouco consegue com esses crimes, isola-se cada vez mais e aumenta seu sofrimento na mesma proporção.

François Truffaut é Antoine Doinel. O próprio já declarou que as situações do filme aconteceram com ele mesmo ou com alguém muito próximo. O personagem, que depois teria mais três filmes e um média, é sempre interpretado por Jean-Pierre Léaud: "seu filho acabou de passar aqui!" disseram uma vez para Truffaut.

O título orginal Les 400 Coups é uma alusão à expressão "faire les quatre cents coups", que significa algo como "viver uma vida desregrada" ou "fazer arruaça". Rebeldia, portanto. A mesma rebeldia da infância e adolescência de Truffaut que deu origem a Antoine Doinel e que, mesmo que ele não queira, acaba regendo sua vida.

É um dos filmes mais melancólicos que eu já vi, principalmente por mostrar como a juventude pode ser solitária e extremamente dolorosa. A cena final sintetiza essa solidão e é tão icônica que até foi reproduzida nos Simpsons, veja só.


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As aventuras de Antoine Doinel:

  • Os Incompreendidos (Les 400 Coups, 1959)
  • Amor aos 20 anos - Antoine & Collete (média-metragem, 1962)
  • Beijos Proibidos (Baisers Volés, 1968)
  • Domicílio Conjugal (Domicile Conjugal, 1970)
  • Amor em Fuga (L´Amour en Fuite, 1979)


3 comentários:

  1. Tenho que dizer que foi uma ótima escolha de filme para se falar! Amei - como sempre - os comentários que você fez!
    beijo, cris!

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  2. Acho que faltou apenas analisar uma cena específica de modo a melhor traduzir ao leitor seus pensamentos em relação ao filme (por exemplo, explicando a cena final - na praia - você poderia ilustrar o tom melancólico.

    Gostei da explicação do título original. Na tradução brasileira há uma sensação de pena que desvirtua o tom marginal do título em francês.

    p.s. o Doinel era mais bonito quando criança.

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  3. Ah, brigada Paula ;DD (e pela divulgação no twitter também!)


    Então, Rodrigo: eu quis mais estimular as pessoas a assistirem ao filme do que interpretar e tudo mais. Se eu começasse a falar da cena do fim (que aliás tem muitos pontos de contato com o Quadrophenia) acho ia ficar meio spoiler. Eu pelo menos não consigo esquecer as coisas que eu leio quando estou vendo o filme ("olha isso e aquilo, o filme deve estar acabando" etc). Frescura. xD

    E eu também tenho esperanças de que esse filme um dia vai entrar pra lista do Clube.

    Acho que eu não concordo com você sobre essa coisa do Doinel, haha

    http://www.tcf.ua.edu/Classes/Jbutler/T340/Leaud.jpg

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E eles não parecem querer parar:

"A arte não é só talento, mas sobretudo coragem."(G.Rocha)
"Um homem é um gênio quando está sonhando." (A.Kurosawa)
"Se um ator entra pela porta você não tem nada. Mas se ele entra pela janela você tem uma situação."(B.Wilder)