Com a palavra, os cineatas:

“O que interessa não é o que dizemos, mas como dizemos.”(F.Fellini)
"A realidade é chata, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife"(W.Allen)
"Há algo mais importante que a lógica: é a imaginação."(A.Hitchcock)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Gone with the wind

Começando pelo começo: imagino que o título do filme tenha surgido no sentido de perda, perda das coisas que a protagonista Scarlett sofreu no decorrer da trama. Scarlet começa como uma menina mimada pela família e pelo dinheiro, conhecedora de seu poder de sedução e possuindo um amor obsessivo por Ashley.. Ao longo da trama, conhece o real significado da guerra, perde sua mãe e seu pai enlouquece, o filme então ruma numa direção diferente.
A cena mais impressionante é quando a personagem pega a terra em suas mãos e diz que se tivesse que matar, roubar e fazer o que fosse, faria, mas nunca mais passaria fome de novo. Perguntei-me, após vê-la casar-se com o pretendente da irmã, se causar o sofrimento dos outros seria justificado pelo fato de que ela é uma menina que sofreu muito com as perdas ocasionadas pela guerra.
“O feitiço vira-se contra o feiticeiro” é um ditado que tem um papel importante no filme. Tomada por sua vaidade e por sua obsessão, Scarlett deixa escapar o amor de sua vida, e por conta de seus caprichos e de seu desinteresse acaba perdendo sua filha também.
Não preciso dizer que a elaboração psicológica da personagem foi o que mais me encantou, por esse fato não soube afirmar no final se eu a amava ou a odiava. Scarlett não é nada mais nada menos do que uma pessoa que as vezes cega-se por amor, se envaidece, ou endurece-se nas grandes dificuldades da vida como todos nós, mas acho que a mudança que a guerra causou foi um fator decisivo no caráter dela, como se a realidade fosse encarada por ela pela primeira vez.
Fazendo um comentário ala Lacerdinha, foi impossível não me identificar com scarlet.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Quadrophenia


A cidade de Londres na década de sessenta era, pra dizer pouco, mítica. Tudo estava mudando bem ali, debaixo dos narizes de todo mundo: a música, a moda, os valores, o comportamento. No olho do furacão estavam os jovens, claro, e quem não teria gostado de fazer parte dessa geração. Afinal, a quantidade de livros sobre o Maio de 68 lançados no ano passado mostra que até algumas pessoas que estiveram lá olham para trás com saudades.

Porém, não são todos que lembram desses anos assim. Um relato bem impressionante sobre um dos lados negros dos sixties é Quadrophenia (de Franc Roddam, 1979). O filme é baseado na terceira ópera-rock dos londrinos do The Who, lançada em 1973 e que levava o mesmo nome. Tanto a história quanto as composições saíram da cabeça do guitarrista, Pete Townshend.

Townhend, assim como seus colegas de banda, eram mods. A palavra vem de "modernists" e designava uma das gangues londrinas da época. Os mods andavam com scooters italianas costumizadas, roupas elegantes e somente ouviam o rock britânico* que começava a aparecer. Aliás, o Who era a banda mais adorada por eles. A outra gangue era os rockers, jovens que lembravam muito Marlon Brando em O Selvagem, com jaquetas de couro, motos de escolta e que ouviam rockabilly e outras coisas dos anos 50. As duas viviam se engalfinhando pela cidade, aterrorizando todo mundo e causando vários estragos por onde passavam.

Quadrophenia é quase um documentário, no sentido de mostrar o que virou parte da geração que cresceu numa cidade que se recuperava da guerra e do que se tratava ser um mod. Estão lá o absurdo das brigas, as drogas (eles adoravam anfetaminas), a imaturidade. O filme pode até parecer algo distante nesse ponto, "um filme sobre jovens londrinos sessentistas". Mas não é. Ele trata, na essência, de assuntos extremamente universais: o amadurecimento e as encruzilhadas em que qualquer jovem um dia irá se encontrará.

O nome do filme/disco é a junção do termo esquizofrenia, que aparece com o significado popular de "múltiplas personalidades", e o "quadro", as diferentes personalidades dos quatro membros da banda. Quadrophenia, em suma, é o protagonista da história Jimmy, um rapaz perturbado e perdido, que poderia ter aparecido em qualquer outra época, mas que no caso, está dando um pouco de realidade à idéia saudosista que muita gente tem dos anos 60.


* Ouça "Dedicated Follower of Fashion" do The Kinks, que também era uma banda dita mod. E ouça o disco do Who, também, mó legal.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Vanilla Sky


Atenção! Spoilers!!

Dia perfeito para ver Vanilla Sky, já que o céu era baunilha.
Confesso que hoje, com o céu branco, ou melhor, baunilha do modo que estava, um despertador com a voz da – ah – Penélope Cruz não me acordaria. Se a Penélope não me acordaria, a Cameron Diaz muito menos.


O filme começa com uma cena que parece mais um run, Tom, run! Meio que uma criança perdida em uma cidade grande... Só que dessa vez, Cameron Crowe não usou crianças. Às vezes as pessoas esquecem que adultos também se perdem, tem medos infantis, como de altura e acho que, apesar de David agir como se fosse uma criança todos sabemos que ele não é (comentário feminino on: com aquele rosto, como poderia?). Ele se apaixona por Sofia pela sua pureza, não é? Mas ao mesmo tempo essa pessoa pura diz que Juliana é “the saddest girl to ever to hold a martini”. Afinal, o quão ingênuo isso é? Que pessoa é mais ingênua que a que se apaixona pela ingenuidade de outra?

Mais um motivo para achar que David age como uma criança... Uma criança que não cresceu por causa da proteção paterna e, agora – de repente – após um acidente de carro (coincidência?) e a conseqüente morte dos pais tem que arcar com o “império” de sua família. Cidadão Dildo, diga, qual é o limite entre o sonho e a realidade? Acho que o filme trata disso principalmente e não de amores perfeitos ou de garotas dos sonhos de alguém – como podemos perceber primeiramente no caso de Brian, o único amigo de David, a garota dos sonhos de alguém muda. Antes, Juliana era a garota de seus sonhos, tratada como amante, para evitar outras palavras, por David, mas logo depois ele conhece Sofia e logo esta é a garota dos seus sonhos. Volúvel talvez? Acho que a vontade de achar alguém tão perfeito para você que qualquer um que tenha pelo menos uma das características que você imaginou, serve e se torna a pessoa que você sempre sonhou. Ou talvez seja tudo dito da boca p
ra fora.

E no fim de tudo, quem é a garota que David sempre sonhou? A garota de Brian será a garota de David? Juliana que, vamos concordar, também o usava para aliviar sua energia acumulada e dizia o amar ou Sofia que aparentemente deu a ele uma noite de amor verdadeiro? Talvez isso, o amor verdadeiro que eles sentiram também tenha sido fruto da imaginação... Enquanto temos a certeza física de que algo ocorreu entre Juliana e David – quatro vezes significa algo -, nada comprova uma relação entre Sofia e David a não ser o depoimento do técnico sobre a vida de David ao menos que consideremos o sonho uma prova...

O sonho lúcido. Grande paradoxo ambulante. Talvez o sonho lúcido tenha começado nessa relação que ele teve com Sofia. A parte lúcida garantia que estava com Sofia e o sonho, o amor verdadeiro com alguém que mal conhecia.

David, a criança que, quando se congelou, escolheu viver protegido por um céu de Monet, o favorito de sua mãe. O céu de sua mãe. Protegido pela sua mãe morta por um acidente de carro e ele, vivendo a vida dos seus sonhos após ser desconfigurado por um acidente de carro que acabou justificando seu medo de altura, afinal, seu rosto ficou marcado após uma queda de uma ponte. Ele programou sua vida, mas seu subconsciente não deixa que ele esqueça de Juliana. Culpa, talvez? Ou talvez Juliana e Sofia tivessem mais coisas em comum do que parecesse. De uma forma ou de outra, ou o sonho ou a lucidez interferiu em seu sonho lúcido que se tornou um pesadelo.

David acaba matando o “amor de sua vida” por pensar que esta era Juliana. E mais uma vez sonho se confunde com a realidade. Porque a vontade de matar Juliana? Sentir-se-ia ameaçado pela sua idéia fixa ou ele não se imaginaria vivendo sem Sofia? Estaria ele bravo porque no fundo sabia que Juliana estava estragando seu sonho?

E quem é Sofia afinal? Cameron ou Penélope? Seriam ambas, Sofia e Juliana, uma pessoa só? E assim sendo, Brian teria apenas uma garota dos seus sonhos? Quem é Sofia? É loira ou morena? Americana ou espanhola? O que é real? O que é real?

Com esse pesadelo, David cria uma figura paterna. Tal como seu pai deveria ter sido. Firme, mas apoiando e mostrando o caminho a seguir. As cenas finais, com ele chamando por suporte técnico e a lição do técnico sobre conseqüências são lições típicas de crianças que começam a aprender a viver. Chama pela ajuda de alguém mais velho, alguém que pudesse guiá-lo.
E afinal, o que é real? Sentimentos são reais? Prazeres são reais? Amigos são reais? Dinheiro, que seu pai dizia ser em grande parte (99%) solução de casos, é real? Acidentes são reais? E a sua eterna indecisão, é real? Quem David ama é real? Ou ele foi apenas capaz de inventar alguém para fugir da sua solidão como mostra o início do filme?

Eu acho que o filme tem uma série de referências bacanas, mas ele viveria bem sem elas, porém o diretor não viveria. Acho Vanilla Sky um filme muito mais profundo e que me provoca muito mais mal-estar que qualquer outro filme do Cameron, mas acho que isso é pessoal, afinal Quase Famosos deixa pessoas que idoltram a vida de Cameron arrepiadas. Pra mim, Quase Famosos é só um filme e Elizabethtown é nível O Amor não Tira Férias, mas Vanilla Sky desafia você a pensar sobre as fronteiras de tudo.


Mas afinal Cameron é um nome unissex?



Vanilla Sky

Amor, ódio, sonhos, vida, trabalho, jogo, amizade, sexo. São essas as palavras escritas na capa do dvd do filme. E é dessa mesma forma que o roteiro é apresentado, como palavras fortes jogadas aleatoriamente e relacionadas entre si. É o tipo “sexto sentido” de filme, ou seja, que faz muito mais sentido na segunda vez que você vê.

Inclusive queria ter visto duas vezes para fazer essa resenha. Eu só tinha duas únicas referências do filme antes de vê-lo hoje. A primeira era o comentário de um amigo: “o pior filme, do melhor diretor”. E a segunda, claro, a cena em que aparecem os peitos de Penélope Cruz. Pra mim, baunilha (chame como quiser) é só um filme incompreendido.

O filme fala de como nunca estamos satisfeitos com a realização dos nossos sonhos. Sempre sonhamos mais. E alguns dos cenários realmente lembram sonhos. Além das ótimas referências (a maioria é até explicada posteriormente) do diretor. O filme todo parece que se passa em outra dimensão. Lembra Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Lembra

até o conceito de Matrix. Tudo isso com uma ótima novela de fundo. Pra mim, a atuação de Tom Cruise está ótima, mas há controvérsias.

Sou suspeito pra falar da trilha sonora, pois as músicas escolhidas batem exatamente com meu gosto “rolling stone” musical. E ela muda conforme o filme. No começo, você é conquistado por David Aames e seu estilo de vida. Até a parte que tudo se confunde.

Se você se sentir idiota por não entender nada durante 40% do filme, não se assuste. Acontece com os melhores. E durante esses 40% (a porcentagem varia de pessoa pra pessoa), o filme assume um thriller. Nada muito agradável de se ver.

Mas o doce final compensa. Como o próprio filme diz, o doce nunca é tão doce se você não experimenta o amargo. Com um mix de ficção científica e lição de vida o filme me conquistou. Mas como eu disse, é um filme incompreendido. Ame, odeie ou ignore, o filme é um sonho. Porém cada um interpreta seus sonhos de uma forma. Quatro estrelas.

E eles não parecem querer parar:

"A arte não é só talento, mas sobretudo coragem."(G.Rocha)
"Um homem é um gênio quando está sonhando." (A.Kurosawa)
"Se um ator entra pela porta você não tem nada. Mas se ele entra pela janela você tem uma situação."(B.Wilder)