Com a palavra, os cineatas:

“O que interessa não é o que dizemos, mas como dizemos.”(F.Fellini)
"A realidade é chata, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife"(W.Allen)
"Há algo mais importante que a lógica: é a imaginação."(A.Hitchcock)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Quadrophenia


A cidade de Londres na década de sessenta era, pra dizer pouco, mítica. Tudo estava mudando bem ali, debaixo dos narizes de todo mundo: a música, a moda, os valores, o comportamento. No olho do furacão estavam os jovens, claro, e quem não teria gostado de fazer parte dessa geração. Afinal, a quantidade de livros sobre o Maio de 68 lançados no ano passado mostra que até algumas pessoas que estiveram lá olham para trás com saudades.

Porém, não são todos que lembram desses anos assim. Um relato bem impressionante sobre um dos lados negros dos sixties é Quadrophenia (de Franc Roddam, 1979). O filme é baseado na terceira ópera-rock dos londrinos do The Who, lançada em 1973 e que levava o mesmo nome. Tanto a história quanto as composições saíram da cabeça do guitarrista, Pete Townshend.

Townhend, assim como seus colegas de banda, eram mods. A palavra vem de "modernists" e designava uma das gangues londrinas da época. Os mods andavam com scooters italianas costumizadas, roupas elegantes e somente ouviam o rock britânico* que começava a aparecer. Aliás, o Who era a banda mais adorada por eles. A outra gangue era os rockers, jovens que lembravam muito Marlon Brando em O Selvagem, com jaquetas de couro, motos de escolta e que ouviam rockabilly e outras coisas dos anos 50. As duas viviam se engalfinhando pela cidade, aterrorizando todo mundo e causando vários estragos por onde passavam.

Quadrophenia é quase um documentário, no sentido de mostrar o que virou parte da geração que cresceu numa cidade que se recuperava da guerra e do que se tratava ser um mod. Estão lá o absurdo das brigas, as drogas (eles adoravam anfetaminas), a imaturidade. O filme pode até parecer algo distante nesse ponto, "um filme sobre jovens londrinos sessentistas". Mas não é. Ele trata, na essência, de assuntos extremamente universais: o amadurecimento e as encruzilhadas em que qualquer jovem um dia irá se encontrará.

O nome do filme/disco é a junção do termo esquizofrenia, que aparece com o significado popular de "múltiplas personalidades", e o "quadro", as diferentes personalidades dos quatro membros da banda. Quadrophenia, em suma, é o protagonista da história Jimmy, um rapaz perturbado e perdido, que poderia ter aparecido em qualquer outra época, mas que no caso, está dando um pouco de realidade à idéia saudosista que muita gente tem dos anos 60.


* Ouça "Dedicated Follower of Fashion" do The Kinks, que também era uma banda dita mod. E ouça o disco do Who, também, mó legal.

4 comentários:

  1. bom, eu curti pra caramba, não sei o que comentar
    análise sem revelar nada e que dá vontade de ver
    :D

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  2. (Ahh... Não tinha visto esse comentário! Pensei que eles mandassem um email...)

    Só mais uma constataçâo: gostar de The Who não é pré-requisito para curtir o filme! \o/

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Genial, primeira vez que leio algo interessante sobre esse filme.
    Tenho op album do filme em vinil.

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E eles não parecem querer parar:

"A arte não é só talento, mas sobretudo coragem."(G.Rocha)
"Um homem é um gênio quando está sonhando." (A.Kurosawa)
"Se um ator entra pela porta você não tem nada. Mas se ele entra pela janela você tem uma situação."(B.Wilder)